segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

BRASILEIROS QUE CANTAVAM EM INGLÊS

MATERIAL RETIRADO DO BLOG TUNEL DO TEMPO – UMA VIAGEM MUSICAL. http://dnstudio.blogspot.com
NOSSOS GRINGOS - POSTADO POR: RSTONE

BRASILEIROS QUE CANTAVAM EM INGLÊS

Uma colaboração de RSTONE da COMUNIDADE MÚSICA CAFONA E JOVEM GUARDA

Na primeira metade dos anos 70, surgiu uma leva de cantores e grupos brasileiros que adotaram pseudônimos estrangeiros e passaram a gravar músicas em inglês. Na época, a música internacional no idioma inglês tomava conta do mercado fonográfico, muito por conta das trilhas sonoras das novelas televisivas. O sucesso dessas primeiras trilhas internacionais das novelas contribuiu para difundir este movimento "made in brazil", em que cantores brasileiros passaram a gravar temas na lingua extrangeira para que suas gravações fossem inseridas nos discos de trilhas internacionais das novelas.

Para isso, tiveram que adotar nomes artísticos em inglês. Fábio Júnior, por exemplo, tinha dois alter-egos: Mark Davis e Uncle Jack. Como Mark Davis, emplacou o sucesso "Don't Let Me Cry", como Uncle Jack, fez sucesso com a música "My Baby".Nessa esteira, temos vários brasileiros que embarcaram nessa onda, alguns se deram muito bem, outros, sumiram completamente da mídia após o fim do movimento.Aqui estão músicas muito lembradas até hoje como “Feelings” (Morris Albert), “Me and You”, “We Said Goodbye” (ambas com Dave McLean), “Hey Girl” (Lee Jackson), “Tell Me Once Again” (Light Reflections), “I’m Gonna Get Married” (Sunday) e “Pidgeon without a Dove” (Patrick Dimon). Chrystian, cujo nome verdadeiro é José Pereira da Silva, emplacou em todo o Brasil, a balada “Don’t Say Goodbye”, em 1974. Seu irmão Ralf, sob o pseudônimo Don Elliot, cantava covers como “One Day in Your Life” (Michael Jackson) e “My Love for You” (Johnny Mathis). O falecido Jessé também usava dois pseudônimos: Christie Burgh e Tony Stevens (com este alter-ego emplacou em todo o Brasil as baladas "If You Could Remember" e "Flying High"). Michael Sullivan(nome verdadeiro,Evanilton), estourou com dois grandes sucessos: "My Life" e "Sorrow". Depois que o movimento acabou, participou dos Blue Caps e depois dos Fevers. No final dos anos 80, fez muito sucesso como compositor e produtor em dupla com Paulo Massadas.

“Naquele tempo era difícil as emissoras conseguirem os direitos de grandes nomes internacionais, daí essa leva de artistas cantando em inglês ter sido um achado”, diz Hélio Costa Manso, ex-integrante do grupo Sunday.“Ficávamos no corredor da gravadora esperando informações sobre o personagem que ganharia o tema. A música, o arranjo, tudo era composto ali, em um ou dois dias, sob encomenda”, conta Chrystian.Os depoimentos do Hélio Costa Manso (ele fazia parte do Sunday e também tinha carreira solo como Steve MacLean) e Chrystian confirmam a tese de que as trilhas sonoras das novelas foi o que impulsionou este movimento de cantores brasileiros com pseudônimos estrangeiros a gravarem músicas em inglês. Boa parte destes artistas eram músicos e cantores competentes. A maioria vinha do circuito de bailes, como Os Pholhas, Sunday, Light Reflections (ex-Os Bruxos, da Jovem Guarda) e o Lee Jackson. Outros eram profissionais de estúdios de gravação, como os Harmony Cats.Quanto ao idioma inglês, aí sim, pesava contra todos eles as dificuldades do desconhecimento da lingua. "As letras eram compostas por quem não sabia nada de inglês e corrigidas por quem tinha alguma noção", diz Hélio Costa Manso. Os Pholhas tinham um método original de compor. Eles tiravam os versos de suas canções de um livro dos anos 30 chamado Inglês Como Se Fala. "A gente achava uma frase legal, copiava e depois tentava emendar com outras do mesmo livro", confessa Oswaldo Malagutti, ex-baixista do grupo. Para não ser desmascarados, os artistas evitavam fazer espetáculos e se apresentar na TV, o que os prejudicava bastante do ponto de vista financeiro. "Em 1973, eu estava estourado em todo o Brasil com a canção Dont't Say Goodbye. Podia ter ganho um bom dinheiro, se não fosse tão difícil encarar um show ao vivo", diz Chrystian. Pernambucano radicado no Rio de Janeiro

Um fato curioso ocorreu com o cantor Ivanilton de Souza Lima (O Michael Sullivan): em 1975 ele compôs uma linda balada e a intitulou de "My Life". Na hora de lançar o disco pelo selo Top Tape, teve de escolher um nome internacional. Abriu a lista telefônica de Nova York e escolheu Michael Sullivan. "My Life" entrou na trilha sonora da novela O Casarão, mas Michael continuou a faturar como Ivanílton – ele era vocalista da banda Renato e Seus Blue Caps. "O chato é que eu cantava My Life com o grupo e tinha de ouvir das pessoas que a versão da novela era melhor", diverte-se.A mania dos cantores internacionais made in Brazil começou a decair no início dos anos 80, quando a música brasileira ganhou mais espaço nas rádios. "As gravadoras sentiram que a longo prazo era mais negócio investir no Martinho da Vila do que na gente", pondera André Barbosa Filho, integrante do Light Reflections, que em 1972 vendeu 1 milhão de compactos da música Tell Me Once Again.

MORRIS ALBERT - O MAIOR DE TODOS

Muitos deste artistas sonhavam em fazer sucesso em outros países. Apenas um deles conseguiu: o carioca Maurício Alberto Kaiserman, aliás, Morris Albert. "Feelings", canção que compôs e gravou em 1973, está entre as músicas mais executadas em todos os tempos. Chegou a ganhar versões de Frank Sinatra e Julio Iglesias. Recentemente o grupo americano Offspring, fez uma releitura satírica do hit. A carreira de Morris Albert declinou ainda nos anos 70. Depois de "Feelings" ele ainda conseguiu emplacar mais dois hits nas paradas, "She's My Girl" e "Conversation".Mas o pior estava por vir. Nos anos 80, o compositor francês Lou Lou Gasté processou Morris Albert por plágio, alegando que Feelings seria cópia de uma composição sua, Pour Toi. Morris perdeu a causa e teve de entregar 3 milhões de dólares a Gasté. Nunca mais se recuperou do baque. Hoje, ele vive em Toronto, no Canadá, onde dirige um estúdio de gravação.
Vários dos artistas daquela época permaneceram em evidência, com seus nomes verdadeiros ou mantendo os pseudônimos. Michael Sullivan, por exemplo, e até mesmo o Chrystian, que formou ao lado do seu irmão Ralf (Don Elliot), a dupla Chrystian & Ralf. Outros retornaram aos seu nomes verdadeiros e conseguiram alavancar a carreira ainda com mais sucesso, como Fábio Júnior e Jessé. Mas a grande maioria destes artistas mudaram de ramo, quando este movimento "made in Brazil" começou a decair. André Barbosa Filho (integrante do Light Reflections, conforme citado no início), é hoje professor de rádio e TV da Universidade de São Paulo, USP. "A certa altura, delirando com o sucesso, chegamos a pensar que poderíamos estourar também no exterior", relembra ele. "Naturalmente, tudo não passou de ilusão." O sonho acabou, ou melhor, The Dream Is Over. (RSTONE)

Fontes consultadas: - Site Teledramaturgia Brasileira
Revista Veja (Edição de 27/10/1999 - matéria de Sérgio Martins)
Arquivo pessoal de RSTONE.





MARK DAVIS (FÁBIO JÚNIOR)



TONY STEVENS (JESSÉ)



TONY STEVENS (JESSÉ)



CHRISTIE BURGH (JESSÉ)



MORRIS ALBERT



MORRIS ALBERT



MORRIS ALBERT



DAVE MACLEAN



MICHAEL SULLIVAN



PATRICK DIMON



DON ELLIOT (RALF, da dupla Cristian e Ralf)



CHRYSTIAN (Da dupla Cristian e Ralf)



CHRYSTIAN (Da dupla Cristian e Ralf)



STEVE MACLEAN

domingo, 13 de dezembro de 2009

SUCESSOS DO PASSADO INTERNACIONAL na TRILHA...

Grandes sucessos que marcaram época e fizeram a trilha sonora da vida de muita gente ! Da minha, inclusive... Me amarro nesse som !


GRANDE PARADA ANOS 70:


TONY ORLANDO & DAWN



TONY ORLANDO & DAWN




THE RUBETTES




I SANTO CALIFORNIA




PHOLHAS



BINO



LIGHT REFLECTIONS



THE HOLLIES



PUPO





PUPO



PUPO



DEMIS ROUSSOS




DEMIS ROUSSOS



DEMIS ROUSSOS



PETER MAFFAY



Em breve, mais SUCESSOS DO PASSADO INTERNACIONAL...




















domingo, 17 de maio de 2009

NA TRILHA DA JOVEM GUARDA

Falar de Jovem Guarda é muito mais do que falar de um programa, apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, que transformou, a partir daquele inesquecível agosto de 1965, as ociosas tardes de domingo, em jovens tardes de velhos tempos, belos dias...


Falar em Jovem Guarda é falar de um movimento musical que revolucionou, por inteiro, a música popular brasileira, na década de 60.


De uma frase do líder revolucionário soviético Vladimir Ilich Lênin: “o futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada”, surgiu a idéia do publicitário Carlito Maia, para o nome Jovem Guarda.


Muito mais do que alguns programas de TV, inúmeros show e milhares de discos gravados , uma revolução, a marca de uma geração que começava a buscar seu lugar ao sol...

Na verdade, a Jovem Guarda foi a materialização de tudo aquilo que os pioneiros do rock brasileiro sempre sonharam. Nascia a música pop brasileira, movida a guitarras, provocando, pelas ruas do país inteiro, a mesma revolução romântica que os adolescentes de Londres ou da Califórnia experimentavam a bordo da Beatlemania.


Aparentemente ingênua, a poesia da Jovem Guarda falava a milhões de brasileiros com uma linguagem simples, direta, popular. O universo poético do iê-iê-iê brasileiro permitia a paixão por carros, sejam eles calhambeques, Ford bigodes, vermelhos ou não; permitia estilos diferenciados onde usar cabelo na testa, anel brucutu, botinha sem meia e calça boca de sino era o maior “barato”. Ao mesmo tempo, ao retratar a solidão das grandes metrópoles, os amores impossíveis, e seus tipos estranhos, esse universo poético transformou tudo em uma doce mistura entre o saudosismo dos anos 50 e a contemporaneidade pop dos super-heróis, revistas em quadrinhos e seriados de TV.


De irreverentes a românticos, cada um teve seu papel dentro do contexto Jovem Guarda. Enquanto Erasmo Carlos assumia o papel de Tremendão, encarnando, com sua Fama de Mau, o lado irreverente do Movimento; Roberto Carlos, com certeza, foi o poeta popular que confortou a alma jovem, dando-lhes a esperança de que é possível, sim, se apaixonar, sinceramente, por alguém.


O fato é que, em meados dos anos 60, não existia nenhum tipo de análise sócio-cultural ou artística que mostrasse a realidade da Jovem Guarda como um movimento cultural importante. De repente, não havia mais adultos em formação ou crianças crescidas. Havia jovens, dando as cartas e protagonizando uma nova era para a história da MPB.


E isso mexeu com a chamada “MPB tradicional” ou “intelectualidade oficial”, levando diversos expoentes de um outro movimento intitulado “bossa nova”, a organizarem verdadeiras manifestações de “guerra ao ie-ie-ie de Roberto Carlos e a Jovem Guarda”.


Como curiosidade, um dos grandes micos da história da música popular brasileira foi quando um grupo de artistas, adeptos da Bossa Nova, e encabeçados por Elis Regina, Jair Rodrigues, Edu Lobo, Geraldo Vandré e MPB-4, acompanhados por um constrangido Gilberto Gil, saiu às ruas, numa manifestação que ficou conhecida como “Passeata contra as guitarras elétricas.” Mesmo apresentada como um protesto contra a “invasão da música estrangeira”, a manifestação não atraiu artistas mais abertos como Caetano Veloso, Nara Leão e Chico Buarque. Pegou mal...


E como tudo tem seu tempo, (afinal Roberto Carlos começou tocando bossa nova, em violão acústico...) , alguns anos mais tarde, restou à musa Elis Regina, redimir-se do “mico” gravando sucessos do Rei, como “As curvas da Estrada de Santos”. Essa foi a primeira música de Roberto gravada por um artista consagrado.


Seria o Fino da Bossa rendendo-se aos acordes elétricos da Jovem Guarda ou o seu tardio reconhecimento como um movimento que representou a bandeira de todos os jovens do Brasil ?


OS GRANDES ÍDOLOS DA JUVENTUDE:


Quando a Jovem Guarda entrou no ar, naquele inesquecível 22 de agosto de 1965, e as tardes de domingo ficaram mais jovens, o cenário do Movimento era só um: Roberto Carlos era O Rei; Erasmo Carlos, o Tremendão; Wanderléa, a Ternurinha. Wanderley Cardoso era O Bom Rapaz; Eduardo Araújo, O Bom; Jerry Adriani, o Italianíssimo; Martinha, o Queijinho de Minas, Rosimary, A Boneca Loira que canta; e Ronnie Von, o Pequeno Príncipe, numa irônica provocação da mídia ao Rei Roberto Carlos. Além dos ícones, rapidamente transformados em ídolos, integraram a Jovem Guarda, grupos de rock instrumental, duplas vocais e intérpretes que entrariam para a história do Rock brasileiro.


Intérpretes: Sérgio Reis, Ed Wilson, Boby Di Carlo (o do “Tijolinho”), Antônio Marcos, Paulo Sérgio e as cantoras Meire Pavão, Cleide Alves, Silvinha, Vanusa e Waldirene, a garota papo firme que o Roberto falou...


Grupos : The Bells, The Jordans, The Jet Blacks, Os Brasas, The Clevers (depois, Os Incríveis), Os Jovens, The Angels (depois, The Youngsters), The Brazilian Bitles, The Fevers.


Duplas e Grupos Vocais: Os Vips, Deny e Dino, Leno e Lílian, Tha Golden Boys, Renato & seus Blue Caps; Os Caçulas, Trio Esperança, Os Iguais (que revelou Antônio Marcos).


A Jovem Guarda teve sua geração de compositores como Getúlio Cortês (de “Negro Gato”, gravada por Roberto), Leno, Lílian Knapp, Carlos Imperial, Roberto e Erasmo, e Helena do Santos.


Mas, assim como a palavra de ordem era uma adaptação do “yeah,yeah,yeah” dos Beatles, a maioria dos sucessos da Jovem Guarda veio mesmo de versões de sucessos do rock americano, britânico, italiano e até japonês. Tudo, em função da rápida massificação e industrialização do Movimento. Os grandes versionistas foram Renato Barros, Rossini Pinto e Erasmo Carlos.


Entre as bandas, curiosamente, as principais eram egressas do rock instrumental e da surf music.

Os Youngsters, que gravaram com Roberto Carlos, o clássio É proibido Fumar, de 1964) eram The Angels, no início dos anos 60.


Esse também foi a trajetória de um grupo que começou em 1960 com o nome esquisito de Bacaninhas do Rock da Piedade e se transformou na principal formação musical da Jovem Guarda: Renato & Seus Blue Caps.


Os Incríveis, talvez a melhor reunião de bons músicos da Jovem Guarda, atendiam por The Clevers. Uma curiosidade que poucas pessoas sabem é que o grupo de rock brasileiro dos anos 70, conhecido por Casa das Máquinas, foi formado por alguns integrantes de Os Incríveis. Apesar de sintonizados com a Beatlemania que assolava o planeta, o iê-iê-iê compartilhava muito mais influências do que reproduzia o som dos Beatles.


A partir de 1966, quando alguns sucessos da Jovem Guarda chegaram a Portugal, França, Argentina, México e Uruguai, o Movimento conquistou uma enorme capacidade de multiplicação, fazendo brotar um novo grupo de guitarras em cada esquina. Era a “explosão das garagens”, onde as bandas de fundo de quintal saíam da toca para invadir os clubes sociais, rádios, televisões, aniversários e festas de igreja, e que logo estariam embarcando na viagem psicodélica dos americanos e ingleses, como foi o caso de um grupo formado por Rita Lee e os irmãos Sérgio e Arnaldo Dias Baptista, ou, simplesmente, Os Mutantes.


Embora considerados, até hoje, por grande parte dos críticos e historiadores, um bando de cafonas, apolíticos e alienados, os astros instantâneos, e as carreiras meteóricas, que formaram o universo da Jovem Guarda, ajudaram a forjar uma profunda e verdadeira identidade para o rock produzido no Brasil.


Entre as inesquecíveis canções que entraram para a história do Movimento, destacam-se clássicos, entre composições e versões, como:

Que vá tudo para o inferno – Roberto Carlos

Calhambeque – Roberto Carlos, versão para Road Hog, de John Loudermilk.

Festa de Arromba – Erasmo Carlos.

O Bom – Eduardo Araújo

Prova de Fogo – Wanderléa

Menina Linda- Renato & Seus Blue Caps, versão para I Should Have Know Better, dos Beatles.

Pensando Nela – Golden Boys, versão para Bus Stop, do The Hollies.

Pobre Menina – Leno & Lilian, versão para Hang on Sloopy, do The McCoys.

Coruja – Deny & Dino

Tijolinho – Bobby Di Carlo

Coração de Papel – Sérgio Reis

Eu Daria minha Vida - Martinha

Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones – Os Incríveis, versão de Era um regazzo che come me... do italiano Gianni Morandi.


Esses são sucessos que, pela sua originalidade, permanecem vivos, até hoje, seja através de regravações por seus intérpretes originais, ou através de covers de grupos atuais, que não cansam de prestar seu tributo aos desbravadores do rock brasileiro.

Mas a Jovem Guarda, muito mais do que um movimento, é uma paixão, eternizada na originalidade dos LP´s, nas prateleiras de colecionadores do mundo inteiro, que insistem em transformar suas tardes, em inesquecíveis “jovens tardes de domingo”.


Fontes:

www.cliquemusic.uol.com.br - Jovem Guarda

www.senhorf.com.br - A História Secreta do Rock Brasileiro

Revista Super Interessante. História do Rock Brasileiro – Anos 50 e 60. Vol.01.Edição Especial de Colecionador.

No Embalo da Jovem Guarda- Ricardo Pugialli. Editora Ampersand.

Almanaque da Jovem Guarda - Edição Especial CARAS - Outubro, 1996

Revista Marcante / Música - Roberto Carlos e a Jovem Guarda.

ÉRAMOS JOVENS...


ENQUANTO ISSO, EM LIVERPOOL...


Enquanto, no Brasil, o “Exército do Surf” invadia as paradas de sucesso, descendo a Rua Augusta a 120 por hora e transformando tudo numa grande festa de arromba, um grupo de rapazes de Liverpool, interior da Inglaterra, estourava nas paradas do mundo inteiro, com canções românticas – e repetindo com exaustão o refrão: yeah, yeah, yeah !


Ao som alucinante desses embalos, arrastavam atrás de si, milhões de jovens, mundo afora, completamente ensandecidos com os requebros, gorjeios e maneiras de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Star. Eram os Beatles transformando a cabeça e a história de uma geração !


UM PAÍS DE JOVENS:


O ano de 1966 não foi um ano qualquer. Foi o momento de explosão de Roberto Carlos e sua turma, firmando-se como os comandantes do maior movimento musical de massa do Brasil. Era impossível negar a “loucura” que a presença dos artistas do iê-iê-iê causava, pelo Brasil afora, e tudo isso começou a chamar a atenção dos políticos, da Igreja e, claro, da Polícia !


O delírio provocado na juventude brasileira, durante a explosão da Jovem Guarda, em 1965, radicalizou de vez em 1966, criando uma nova Era na música popular brasileira. Para consagrar ainda mais aquela onda de rebeldia juvenil que vinha sacudindo o mundo, e caíra, feito bomba no Brasil, aqueles quatro garotos de Liverpool declaravam ao mundo, em alto em bom som, no dia 04 de março, em Londres: “Somos mais populares que Jesus Cristo”.


Na época, o Brasil era um país de jovens, onde 53% da população tinha menos de 20 anos. Enquanto os Beatles faziam sucesso lá fora (e aqui dentro também !), o furacão iê-iê-iê continuava assolando o país. Excitadas pelo som das guitarras, pelas letras romântico-rebeldes e pela pose de “galã desamparado” dos cantores, garotas, outrora tranqüilas, passaram a incorporar entidades nada angelicais, dispostas a tudo para provar o quanto amavam seus ídolos, transformando-se num exército selvagem de macacas de auditório, sempre alertas e prontas para dar o bote. Muitas colecionavam pedaços da roupa de Roberto Carlos, fios de cabelo de Ronnie Von, beijos de Jerry Adriani, botões do paletó de Wanderley Cardoso, anéis de Erasmo Carlos, e se encarregavam de montar seu museu particular, transformando bugigangas em raridades.


Mas a vida dos Reis do iê-iê-iê não era nenhum “mar de rosas”, nos idos de 1966. Enquanto Roberto Carlos tentava fugir do ataque histérico das fãs, Ronnie Von recebia telefonemas anônimos e ameaças de seqüestro. Ao mesmo tempo, Jerry Adriani, Eduardo Araújo e o Tremendão Erasmo eram acusados de corrupção de menores. Qualquer motivo era um motivo para a Polícia entrar em cena e pegar carona no calhambeque de sucessos da Jovem Guarda. E não vinha sozinha ! Junto com ela, vinha a Igreja correndo atrás do prejuízo, afinal, essa alucinação coletiva causara um êxodo considerável em seu rebanho , que passou a desejar um “reino dos céus” mais imediato e menos punitivo, e partir para a construção de seu próprio paraíso.


Sem muita opção, setores progressistas do Clero resolveram investir no iê-iê-iê, na tentativa de trazer de volta aos cultos, aquela legião de ovelhas desgarradas. Considerada como heresia por alguns, e uma boa estratégia por muitos, realizou-se um Ato Litúrgico na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, onde a parte musical da missa seria no ritmo dos Beatles, acompanhadas de citações do Papa, para passar mensagens evangélicas aos presentes. O conjunto escolhido foi “Brazilian Beatles”. A Igreja ficou lotada e, a juventude, empolgada com o desempenho da banda, esqueceu que estava diante de um altar, e surpreendeu, comportando-se como se estivesse em um show qualquer. Embalados pelo ritmo, subiram nos bancos, dançaram, gritaram e transformaram aquilo em uma grande festa de arromba. O sermão foi um mero detalhe e, se alguém ouviu, não prestou atenção. Diante do escândalo, a cerimônia foi suspensa e o plano do Clero “entrou pelo cano”.


Mas se até a Igreja reconheceu o poder da Jovem Guarda, o que restava ao setor político ? Foi, então, que um nobre vereador começou a coletar assinaturas entre seus ilustres colegas e, em agosto de 1966, Roberto Carlos recebia o título de Cidadão Paulistano, sob o delírio das fãs e desespero das autoridades que viram a Câmara Municipal se transformar num verdadeiro caos.


E foi assim aquele excitante ano de 1966: a Igreja caiu no Rock, os políticos rezavam para que Roberto Carlos se candidatasse a deputado, a Polícia não deu folga à turma do Calhambeque e as fãs continuaram alucinadas ! Era a “Juventude Transviada” fazendo da Beatlemania e da Jovem Guarda, a história e a marca de uma geração, onde todos ainda éramos jovens !


Fontes:

Almanaque da Jovem Guarda - Edição Especial CARAS - Outubro, 1996

Revista Marcante / Música - Roberto Carlos e a Jovem Guarda

JOVEM GUARDA - A MARCA DE UMA GERAÇÃO

DA ALQUIMIA ENTRE O FIM DO FUTEBOL NA TV E O EXÉRCITO DO SURF INVADINDO AS PARADAS DE SUCESSO, SURGIA O MAIOR MOVIMENTO MUSICAL DE MASSA DA HISTÓRIA DO BRASIL:


Na década de 60, as transmissões ao vivo dos jogos do campeonato paulista viraram uma mania nacional, bateram recordes de audiência e fizeram os comerciantes de eletrodomésticos ir ao delírio: a venda de televisores era algo nunca visto nas lojas.


Em tudo isso, um hilário detalhe: A dificuldade em se acostumar com a narração lenta e tediosa de um narrador televisivo, levou o paulistano a baixar o som da TV e colocar em cima dela um radinho de pilha, reproduzindo em altos tons as emocionantes e velozes narrativas, transmitidas pelo rádio. Foi assim o reflexo da transição entre a era do rádio e a era da televisão, no Brasil. Era esse o melhor programa para aquelas tardes de domingo, regadas a muita pizza e cerveja. Nove entre dez paulistanos eram felizes assim !


Mas toda essa mania trouxe conseqüências não muito agradáveis, para ambas as partes. Os clubes notaram um súbito esvaziamento dos estádios. Era óbvio que o público preferia assistir aos jogos no conforto do lar-doce-lar, a ir conferir, ao vivo, os lances e dribles de seus ídolos da bola. Conseqüência inevitável, clubes à beira da falência com arrecadações caindo a níveis absurdos. Estava armado o barraco no meio esportivo e, em pouco tempo, veio a temida e final sentença: estavam proibidas as transmissões esportivas, ao vivo, nos domingos à tarde. Nove entre dez paulistanos já não eram mais tão felizes !


Com tudo isso, o interesse pela programação exibida neste horário caiu e os televisores passaram mais tempo desligados. Os telespectadores estavam órfãos de seu lazer preferido e a TV RECORD, emissora mais prejudicada com a queda da audiência, ameaçada de perder seus anunciantes. Alguma medida precisava ser tomada, com urgência, para recuperar a audiência e reconquistar a fidelidade dos telespectadores. Assim, surgiu o Programa Jovem Guarda, apresentado por três novos talentos: Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, que transformaria em jovens tardes, as ociosas tardes de domingo.


JOVENS TARDES DE DOMINGO - O BRASIL CANTA A JOVEM GUARDA:


O termo JOVEM GUARDA é usado, hoje, para denominar um gênero musical também conhecido por ie-ie-ie, ou seja, a versão brasileira do rock internacional. Enquanto os Beatles tocavam nas rádios do mundo inteiro, o ie-ie-ie, ritmo novo, nascido da mistura do rock com bolero, estava em todas as cristas da onda, levantando as platéias de qualquer espetáculo.


O início da década de 60 marcou uma nova fase na música brasileira. Os cabeludos andavam de carro vermelho, cabelo da testa e botinha sem meia e as meninas, ternurinhas, deliravam com o pão do Roberto, que era uma brasa, mora !


A Jovem Guarda tornou-se o reflexo brasileiro do rock internacional. Liderada por Roberto Carlos, Erasmo – o Tremendão, e Wanderléa – a Ternurinha, o Movimento teve uma atuação direta na vida dos jovens, criando modismos e influenciando o povo, que aprendeu a mandar tudo para o inferno, transformando a vida numa grande festa de arromba.


Músicas românticas e descontraídas como É Proibido Fumar, Festa de Arromba e Garota Papo Firme, Calhambeque e Que vá tudo para o Inferno, foram hits de sucesso, no embalo do novo ritmo e tornou-se um marco do próprio Movimento.


Na onda da Jovem Guarda surgiram inúmeros artistas que, em pouco tempo, transformaram-se em ídolos: Eduardo Araújo, Sérgio Murilo, Agnaldo Rayol, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Ronnie Von, Martinha, Cleide Alves, Meire Pavão, Rosemary, Vanusa e Antônio Marcos, Deny e Dino, Leno e Lílian e os grupos Tha Jordans, The Jet Blacks, Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis, Golden Boys, Os Vips e The Fevers, os reis do baile, que embalavam as festinhas e os romances escondidos...


SOB O SIGNO DE LEÃO, QUEM É DA NOSSA GANG, NÃO TEM MEDO:


Setembro levou apenas a fama, embora a imprensa da época insista em afirmar que a estréia aconteceu neste mês, o Programa Jovem Guarda estreou na TV no dia 22 de agosto de 1965, às 16:30h, sob o signo de Leão – associado à juventude e cuja função zodiacal é a dominação e a afirmação – e detonava o primeiro passo do que viria a ser o maior movimento musical de massa da História do Brasil. Um novo estilo estava no ar. O Exército do Surf invadiu as paradas, descendo a Rua Augusta, a 120 por hora, e as tardes de domingo nunca mais foram as mesmas. Agora, tudo era brasa, mora !


Fontes:

Almanaque da Jovem Guarda - Edição Especial CARAS - Outubro, 1996

Revista Marcante / Música - Roberto Carlos e a Jovem Guarda